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O país amanheceu, nesta quinta-feira, com mais uma “voz do além”: outra proibição, a se somar a tantas, que é a do uso também do telefone celular com o “ viva-voz” nos automóveis. Era compreensível a proibição da utilização do aparelho manual quando do motorista na direção do veículo, posto que o distraia. Mas e esta proibição do “viva-voz” que o Denatran – o poderoso Departamento Nacional de Trânsito – antes aconselhava? Quem mesmo anda desatento?

O órgão, que demitiu recentemente aquele que ousou regulamentar os radares, em seu ato careceu de lógica. Qual sua legalidade – que foi como a de instituir o aviso, tradicional nos coletivos, “não converse com o motorista” nos automóveis particulares. No entanto, o condutor pode ouvir músicas e cantar. Ou será multado por isso? Nos ônibus, o antigo aviso não vale mais, com os motoristas fazendo cobranças e dirigindo ao mesmo tempo, desatentos como os dirigentes governamentais.

Esta decisão dos “viva-voz” foi baseada no “achismo” puro, geradora de multas que não vão para a educação no trânsito, como diz a lei – pois se tornaram mero e escandaloso instrumento arrecadatório. Enquanto isso, milhares de acidentes ocorrem pelo fato de se licenciar carros apenas pelos documentos, sem a inspeção veicular do estado do veículo, sem providências dos proibidores do inocente “viva-voz” para a saúde mecânica dos automóveis.

Mas quem anda desatento é o Governo, que parece ter o procedimento como norma. Em Santos, nos locais em que há rotatórias no asfalto, substituindo com vantagens o semáforo, com segurança, existem cartazes do CET: “Artigo 29 do Código de Trânsito Brasileiro: o carro que estiver na rotatória tem preferência”. E esquecem do Artigo imediatamente anterior, o 28 – que exige atenção exclusiva do motorista no volante.

Esquecem dos ônibus, por exemplo: os motoristas de carros não podem atender o celular, mas os dos coletivos, com a retirada progressiva dos cobradores pela empresa concessionária, que carregam centenas de pessoas sentadas e em pé, podem cobrar, dar troco e ouvir impropérios o dia todo. Esquece o Denatran, esquece o CET, esquece o DETRAN, esquecem todos: quase todos os veículos de transporte coletivo tem hoje o motorista em dupla função, cobrando e dirigindo. Cadê a atenção exclusiva?

Os acidentes se repetem, as leis condenam, os trabalhadores e usuários sofrem, todos reclamam – mas o mecanismo da retirada dos cobradores avança, gerando desemprego e insegurança dos usuários – enganando a planilha de custo da tarifa, em que está o custo-cobrador. Que Deus nos proteja e a Justiça não nos desampare.