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Após décadas de propostas e reivindicações que já fazem 60 anos com Prestes Maia, por um caminho que integrasse às margens do porto para cargas, nos surpreende que enquanto todos ovacionavam o Governador Serra no anúncio da obra, ninguém se lembrasse das antigas e maiores pretensões de outrora – o que não é e nem foi de nosso feitio. Exige-se destacar a insanidade social que seria a restrição ao transporte de cargas no túnel Santos-Guarujá, o que se pretende – um túnel “turístico”, apenas”, na ilha que já espelha a contradição social brasileira em seu Distrito. O próprio secretário Aquino reconhece o debate entre as formulações nos níveis governamentais, na proposta que já serviu de factóide e, agora, exige-se real para homens e cargas. E ônibus e bicicletas são claro. Pena, repetimos que poucos falem desta mais importante logística.

Para os que com que se preocupam com a Saúde Social, que é a finalidade do interesse público em qualquer equipamento coletivo, uma ligação Santos-Continente deverá contemplar, por óbvio – para dizer o menos – a produção e o emprego. Qualquer outra proposta, que sirva apenas ao turismo da Pérola do Atlântico, ainda que gere mais atividades informais e sub-empregos sazonais, é ingênua ou hipócrita. É preciso envolver na ação pública a incorporação de mão-de-obra, o trabalho e a logística necessária à produção e o emprego, visualizada antes do que a efemeridade e a eventualidade das ocupações informais, para o desenvolvimento local.

Não podemos assinar o atestado de incompetência de instruir e evoluir a sociedade local fazendo raízes, impedindo que se perpetue a miséria social e intelectual aqui. Para comprovar a tese, por exemplo comprobatório, a continuidade das crises de abastecimento de água em Guarujá ocorrem pela ausência de ampliação das redes da SABESP. Que não os faz porque não teria retorno em investimentos utilizados apenas sazonalmente, atendendo as carências dos pouco carentes turistas da Ilha de Santo Amaro que a freqüentam no verão.
A passagem do ciclo turístico é efêmera como a opinião pública, que hoje pede a obra em contraposição às filas da balsa que presta e prestou sempre maus serviços, nesta que é a maior passagem de carros sobre a água do mundo. Este ciclo é transitório, eventual, sazonal e inibe a realização de obras com custos retornáveis em longuíssimo prazo, prejudicados em sua reposição. Socialmente nem pensar em investir verbas diretas do orçamento em tal benefício para poucos e que não suprirá a necessidade secular de uma ligação entre a ilha e o continente para as cargas. Faça-se esta que se propõe agora e chore-se a imprevidência depois.

Mas apesar da obviedade, é preciso um alerta – em face de uma série de construções governamentais que se traduzem em desperdício, deixando de lado prioridades sociais. Como prescindindo desta ligação essencial nas perspectivas do crescimento da movimentação portuária. Só mesmo um belo factóide como este, inviável em si mesmo – uma ponte turística – para lançar o temor e o alerta. Afinal, o alerta é necessário porque a inaptidão para o exercício de causas coletivas tem sido uma marca de entidades e governos compostos de pessoas e partidos indispostos com a Saúde Social e com as necessidades das pessoas, o que precisamos reverter para o resgate do progresso popular e para o benefício das maiorias como princípio.