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Ainda antes da Revolução Francesa, Pierre-Joseph Proudhon dizia que era mais honesto assaltar um banco do que fundar um banco. Mas sua salvação é sempre a meta dos Governos – que esquecem o resto e entregam os destinos de milhões à sanha financeira. Vale lembrar: em pleno período de radicalização da Revolução Francesa de 1789, isto em 1793, Jean-Paul Marat, um dos líderes mais importantes na reformulação social desta fase, foi acusado de que estaria desrespeitando a propriedade com suas propostas.

Estavam sendo tomadas as terras dos emigrados, os que haviam saído do país em função do surto revolucionário que depôs Maria Antonieta – não a nossa, que, inversamente, mudou e regenerou a história – e seu rei Luiz XVI. Marat, então, lançou há mais de dois séculos como resposta uma questão sobre definição de prioridades: esta seria a vida ou a propriedade? E respondeu a questão com uma pergunta: qual seria a propriedade mais sagrada, senão a da vida? Esta ele se obrigaria a respeitar. O quadro se aplica com precisão ao momento da saúde brasileira e a sobrevivência e seus hospitais filantrópicos, que atendem 50% dos pacientes nacionais. E cuja defasagem dos pagamentos SUS a estes serviços, mais uma série de exigências, apontam para uma falência certa e breve.

Com milhões de camponeses sem terra e com fome naquele momento, na França, a escolha estava feita – era de Saúde Social. É a que aguarda em nosso país nos 20 anos do SUS, do que dependem 140 milhões de pessoas em nosso país. A saúde é hoje, para 29% dos brasileiros, a preocupação prioritária, “roubando”, na pesquisa feita em abril, o primeiro lugar da violência e desbancando o desemprego. Hoje, os investimentos privados no setor superam os do SUS em 2007 – 49 x 51%, contra 61,6 a 38,4% em 1995, com redução de 20,45% na participação pública. Em 2007 o investimento em Saúde foi de R$ 94,4 bi, metade do Governo Federal, o resto Estados e Municípios – isto apesar do número de pacientes ser (muito) menor. A pesquisa é do médico Gilson Carvalho, consultor da entidade nacional que reúne os secretários municipais de Saúde. Os Planos de Saúde, por óbvio, cresceram na ruindade dos serviços públicos, piorados com o fim da CPMF em dezembro.

Ora, qual é a lógica deste sistema que socorre bancos, mas não os doentes? Disse Adib Jatene que prioridade mesmo não é a saúde, mas pagar juros da dívida pública. O Temporão ministro argumenta com a falta de recursos – defendendo cobrança para o setor dos impostos dos cigarros e bebidas e a criação de um tributo. A Costa Rica, que não tem exército, coloca 21,3% na Saúde, o Brasil 10,3% – mas em políticas divorciadas de sua realidade, sem mapeamento das doenças e oferecendo a falsa impressão de que o SUS é para pobres – isto quando a Vigilância Sanitária é para todos, controle de doenças, fiscalização em todos os hospitais, etc.

Hoje, vivemos o questionamento de Marat, quando mais uma vez os bancos são salvos por medida governamental, a que injetou recursos para os bancos que, a que se sabe, estes que ora negam concessões aos seus trabalhadores e que tem os lucros mais altos da história bancária mundial, nunca tiveram seus dirigentes com problemas de sobrevivência econômica ou de saúde. Sem discordar, perguntamos: e os hospitais? O Governo FHC deu aos bancos 2,5% do PIB da época, Lula dá à saúde 1% do mesmo PIB, verbas SUS. A lógica permanece. Não discutimos a correção da atitude dos empréstimos aos bancos, que em comemoração fazem hoje jantares milionários, como outrora a nobreza fez o Baile da Ilha Fiscal.

A ajuda americana aos bancos, quase igual ao PIB brasileiro, vai por conta dos empréstimos irresponsáveis que fizeram nos financiamentos imobiliários, que o mundo vai pagar. Os lucros eles não socializaram. Os prejuízos, porém… É a regra do sistema e é universal, draconiana, está impregnada no sistema econômico capitalista. O primeiro corte anunciado nos compromissos do candidato Barack Obama, em virtude da crise, foi o que propunha a criação de um sistema universalizado de saúde nos Estados Unidos, lugar em que não existe, sequer. E nem existirá: antes, os bancos, que lá também governam!