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Cerca de dois terços das geleiras já derreteram, viraram água aumentando o Oceano – que, aliás, é o filho da mãe Terra, na mitologia greco-romana. Aquela antiga brincadeira de que Santos vai ser tomada pelas águas começa a assumir tons de verdade. A temperatura do planeta já subiu três graus, algo assim como a elevação de temperatura ambiente que a barreira dos prédios da praia provoca no resto da cidade. Não fosse a insistência do mestre Saturnino de Brito de garantir as avenidas radiais, preservando a penetração dos ventos alísios – os que vêm do mar -, seria muito pior.

Santos tem o privilégio de ter contado com a grandiosa obra de Saturnino, os canais de drenagem que o CONDEPHAT garantiu com o tombamento – substituindo os riachos que cortavam a cidade de ponta a ponta e que a mantinham perenemente com a água à luz da terra, rebaixando o lençol freático -, mantendo o clima.

Mas a cidade ainda anda na contra-mão do ambiente. Pretende-se criar vagas para os carros que crescem geometricamente, sabendo-se que se trata de um objetivo inalcançável criar estacionamento para todos, que a solução é o reforço dos equipamentos coletivos – sem os quais pereceremos todos.

O asfaltamento indiscriminado que tantos admiram, obra que foi capaz de gerar muitos votos, aqueceu o clima. Derivado do petróleo, multiplicador do calor, o asfalto é o pavimento menos indicado para cidades litorâneas. Estamos sentindo neste verão o que significa aumento da temperatura, sol abrasante com o rompimento da camada de ozônio – fruto da insistência do uso do petróleo com combustível.

Já existe em Curitiba uma mistura com óleo de soja que reduz em 43% a emissão de gases pelos motores diesel, mas até isso chegar a cidades como São Paulo e outros centros,  muita gente nascerá e o pior, morrerá em virtude da poluição.

Mas não é apenas o calor gerado, se podemos falar assim, o problema do asfaltamento, que induz à velocidade e retira a calmaria das ruas sossegadas dos bairros, em que um projeto de modernidade urbana reservaria cada vez mais ao uso da população e não dos automóveis. Fundada há quase meio século, Brasília tem instrumentos redutores de velocidade dos veículos em suas áreas residenciais. Aqui, ao reverso, ao menos agora com as ciclovias,  que se exige expandir em todas as direções.

Na Avenida Ana Costa, ao bem de uma estética vegetal questionável, mais de 50 árvores foram arrancadas para se uniformizar a calçada central com palmeiras imperiais, como aquelas que há meio século ornamentam a via que homenageia a esposa do introdutor dos bondes elétricos na cidade,  Mathias Casimiro Alberto da Costa.

Árvores adultas vitais para o resfriamento do clima foram retiradas e nem se pensou em se relocá-las para as calçadas laterais, onde os vegetais existentes perecem junto com 90% dos restantes da cidade, consumidos pelas pragas – anunciando para breve a catástrofe climática. Santos, que depende do clima para sobreviver e não ingressar no caos urbano, que teve o privilégio de ser viabilizada enquanto área de moradia e que deixou de ser o Porto da Morte no fim do século XIX, área de doenças fatais, precisa acordar para o ambiente, nossa única verdade essencial.