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O advento do aniversário dos canais de Santos, configurados neste 27 de agosto que marca a conclusão do Canal 1, o antigo Riacho dos Soldados, tem um significado especial para Santos. Sua construção traduziu a viabilização santista enquanto centro habitacional e comercial, impedido pelas epidemias que grassavam em face do território pantanoso, cujas águas superficiais os canais rebaixaram secando o solo. Ocorreu que em 5 anos (1886-1900) a cidade tinha triplicado sua população. E sobravam os restos de sua atividade, esgotos, lixo. O resultado foram as doenças que dizimaram metade de nossa gente.

Exigiam-se os canais. A cidade vitimada pela peste devolveu a contribuição irrisória de mil réis doada pelo Governo Estadual. Mas o lance de gênio do múltiplo intelectual Vicente de Carvalho, poeta, político e empresário, na substituição do primeiro presidente do Estado, Américo Brasiliense por Cerqueira Cesar, galgou a posição de Secretário do Interior e viabilizou as verbas há tanto pedidas por Santos para os canais, que se fizeram em 20 anos, transformados em realidade, na verdade, pela viabilização econômica da cidade no café.

A sorte colocou em nosso caminho o engenheiro sanitarista Saturnino Rodrigues de Brito, chefe a Comissão de Saneamento em 1905, um engenheiro do tempo dos grandes engenheiros e das grandes obras que não se fazem mais. Mas o sistema separador absoluto, dos canais (só para águas de chuva), em face do grande índice pluviométrico da região, entretanto, sofreu modificações – pois o crescimento não previsto da cidade fez com que se tornasse depósito de esgotos clandestinos, fato também reforçado elo sistema e saneamento que passou a aflorar seu excesso, poluindo o mar.

Mas nenhuma obra foi tão importante para Santos como os canais e sua existência enquadrou-se dentro das condições ambientais da cidade em um novo ecossistema, que não poderia ser alterado sob pena de sacrificar seus benefícios. Assim, o tombamento solicitado por ecologistas ligados à entidade Ação Mar Aberto, em 1991 – concedido quando se tentou fazer obras para cobertura do Canal 4 na gestão que antecedeu a do prefeito Papa -, entre eles o arquiteto José Carlos Lodovici e o ecologista Nelson Rodrigues, foi vital para manutenção da qualidade de vida em Santos.

De maneira alguma o projeto de Saturnino de Brito poderia ter sido modificado com sua cobertura, que eliminara os espécimes que habitam e ajudam a manter o ecossistema dos canais. Como peixe Lebiste, trazido de Santa Catarina por Saturnino para comer larvas de mosquitos, seu prato preferencial, estes que estão desaparecendo pela poluição no ambiente que vivem há um século.