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O projeto dos canais da Zona Noroeste, apresentados pelo prefeito Papa e que já tem financiamento garantido por verbas do Japão, desenha uma nova fisionomia para Santos, integrando a cidade em suas áreas, harmonizando seu bem-viver. Não foi outro o papel dos canais de Saturnino de Brito, iniciados com a inauguração do Canal 1 em 27 de agosto de 1907, que recentemente completaram 100 anos – adaptando a cidade à gente de todas as partes que vieram para cá. Foram difíceis suas verbas fornecidas pelo Estado (cerca de 4,4 mil réis), reivindicação histórica que se viabilizou apenas após uma mudança política federal, liderada localmente pelo poeta e estadista Vicente de Carvalho – quem deu a Santos os canais e sua poesia: “Mar, ó mar selvagem! Há, vem de ti por certo a voz que sinto em mim!”.

Trata-se de um projeto histórico para a cidade de Santos, tão importante quanto foram seus canais construídos de 1907 a 1925. Agora, a Prefeitura terá como missão algo mais difícil, pois se os primeiros canais foram implantados em áreas desabitadas e alagadas, rebaixando o lençol d’água, estes o serão meio a casas, complicando sua execução. As obras dos grandiosos canais de Saturnino foram exemplo mundial da engenharia sanitária, projetadas em continuação a um sistema iniciado antes e que visava resolver o grave problema das epidemias emanadas da água parada.

As epidemias, em fins do século 19, tinham levado metade da população vítima da febre amarela, varíola, tifo e outros males fatais, provocada pelos riachos interrompidos pelo lixo, fermentado pelos esgotos. Ainda hoje se sucumbe por força às enchentes que atingem a resistente gente da Zona Noroeste, que veio disposta a construir a cidade e lá se estabeleceram. É a parte do território santista não idealizado pelo mestre Saturnino.

A dívida da cidade com eles é eterna. E parte dela será paga com estes canais, que estarão nos anais da história na força de sua realização no ano do centenário da magnífica e redentora obra coletiva. Uma obra que obedeceu às leis ambientais, criando um novo ecossistema, que trouxe peixinhos de outros estados, no equilíbrio entre a água dos lados da ilha, milimetricamente calculada em função do volume de água dos diversos locais, para o futuro.