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A conquista do Campeonato Brasileiro, o maior campeonato do mundo pelo alvinegro da Vila Belmiro – já penta-campeão da Taça Brasil que o antecedeu – traz, à lembrança, os construtores desta solidez em preto e branco de beira-mar. Que reúne a cidade em festa de amor exclusivo e fiel, majoritário e que se viu nas ruas, em espetáculos de alegria há tanto aguardados, explodindo em festa. E revela, outra vez, esta auréola mágica que se sustenta sobre a cidade de tantos heróis nacionais e mundiais.

Anuncia-se a volta aos títulos da Libertadores da América e Mundiais de há quarenta anos: prenuncia-se o domínio deste branco esplêndido no tri-mundial Interclubes, que virá, consagrador para o melhor do século nas Américas – como definiu a FIFA.

Desde o distante ano da fundação de 1912, quando Santos crescia com seu porto já como o maior do Brasil, com suas conquistas trabalhistas irradiadas pelo país, até a primeira conquista do time santista em 1935 (obtida justamente contra o Corinthians em um 2 x 0), se estendeu um longo tempo. Foi quando o Peixe obteve o título de “Campeão da técnica e da disciplina”, lembrança que traz em seu hino -, no Campeonato Paulista que fez cem anos em 2002. Até a segunda conquista, vinte anos após, tivemos que esperar.

Diziam, até, que outro título só viria em 1975. Como se enganaram… Viriam títulos sem fim! Em 1955, ainda não tínhamos Pelé, mas o comando de Del Vechio, decisivo na vitória de 3 x 2 sobre o Corinthians, que nos levou ao jogo decisivo com o Taubaté. Era o vislumbre do poder desta terra de gente heterogênea, com gente de todas as partes vindas do mar e da serra. Sai Diego, entra Robert e tudo segue no mesmo ritmo!

Em 1935, eram tempos de Arakém Patusca, o artilheiro; em 1955, lá estavam Manga no Gol e, no meio campo, Urubatão e Formiga, Tite, Negri, Álvaro, Del Vechio e Pepe. Mas depois foi uma sucessão insuperável de títulos estaduais, regionais, nacionais, continentais e mundiais, que faziam sorrir e mostrar esta terra de todos os santos para o planeta. Era o maior futebol que o mundo já viu em todos os tempos, representando a cidade geradora de gênios em todas as áreas. Foi tão grande e tão intensa esta conquista que jamais se afastou de nós. Estará de volta? A auréola se mantém.

Santos que teve os artilheiros outros como Toninho “Guerreiro”, Juari, Serginho, Santos, sempre, terra de glórias: foi assim, na redenção da pátria para que demos Bonifácio, o Patriarca da Independência. Foi assim que o homem subiu ao ar pela primeira vez com Bartolomeu de Gusmão, o padre santista e voador, perseguido pela Inquisição. Foi assim com Pelé que encantou o mundo com seus pés, foi assim nas lições de direitos e liberdade que irradiamos a partir de nosso porto, superando a escravidão que derrubamos aqui antes da Lei Áurea.

Santos Futebol Clube, auréola desta terra que deu à pátria a liberdade e a caridade, a primeira Santa Casa do Brasil, terra por onde passaram os fundadores do planalto e os desbravadores do interior, terra bifronte de porto e praia, trabalho e prazer, guindastes semelhantes a monstros pré-históricos, biquínis e pranchas de surf, nesta pátria se joga futebol em todo canto – e se aprende.

Em Santos, o futebol é na rua, na favela, de gente que não tem o que comer mas sabe jogar em qualquer lugar, até os que que substituíram os antigos amplos campos da várzea que cederam lugar às construções chamadas de progresso – terra do Jabuca, da Portuguesa Santista e até do Atlético Santista, que já esteve no futebol, além de grande força na várzea e na praia.

Pois foi nestes campos que surgiu Robinho, capaz de enlouquecer adversários com sua ginga meio Pelé, meio Garrincha, meio Feitiço, meio Friedenreich, assessorado por um tal Diego, como um Dorval de incrível rapidez e mobilidade, tal como seu substituto já não tão jovem, mas igualmente astuto e genial, chamado Robert. No comando destes bailarinos da bola um ex-goleiro magistral, cujo nome lhe traduz a energia e a tensão que aplica com resultados – Leão que dá a estes garotos a régua e o compasso, mais a liberdade para criar.

No gol a mágica da firmeza de Fábio Costa, como um Tuffy, um Athié, um Gilmar, um Laércio de outrora, guardado com firmeza por Leo, Maurinho que lembra Mauro, às vezes Michel, Alex, André Luiz, Renato, Elano, Willian, Douglas, Bruno, Alberto, Julio Sérgio, Rafael, Mateus, Leonardo, Preto. E a torcida, na cidade do adversário, é maior, sempre – onde, quando e como o Santos estiver!

Paulo Almeida ajuda a reger a orquestra, que nunca desafina: e quando o adversário pensa em reagir, começa a tomar dribles e gols desconcertantes. Estávamos com saudades destes boleiros, que aprenderam tudo na areia ou na rua, na lama, com bola de meia ou no futebol de salão, ou na tabela com a parede enganando o adversário com um finta seca.

No cenário deste Santos Futebol Clube, uma entidade que ajudamos a dirigir com técnica e disciplina,e do que nos orgulhamos – em uma época que trouxemos Giovanni, o artilheiro paulista de 96. Esta é uma cidade que nos esforçamos por construir e reconstruir com Justiça Social, que deu exemplos antigos e recentes de humanidade, saúde e libertação.

Esta é uma terra alagada que superou suas dificuldades e se fez o maior porto do hemisfério sul, que saneou suas epidemias e se fez o melhor lugar do planeta que vai sim eliminar suas misérias humanas que, neste dia, são de uma conquista. O antigo bi-campeão do mundo de verdade de outrora saúda e pede passagem. Vamos voltar a crescer em todas as direções.